quinta-feira, 5 de junho de 2014

IV - Serpenteante

Foto de António Botto


Serpenteante
Naqueles olhos acordados como festa
O meu sentir pelo que vejo desjejua
Como se à luz de um novo esboço a visse nua
Desenharia ela insuspeita e ao que se presta

Na dança em que uma perna aponta para a lua
Palpita a marca umedecida que me arresta
E entre os cabelos dessa boca na floresta
Luzindo mostra-se rubor que se acentua

Segue o delírio debruçado na visão
Treme o pincel que em tinta expele um ser ardente
Daquelas coxas separadas de paixão

Eis que onde corre o pensamento mais carente
Nestas palavras que inexplicam a razão
Mora a pintura de um poeta de repente

(Miguel Eduardo Gonçalves)

2 comentários:

  1. Na frequente edição do belo sensual, o poeta sistematicamente, expõe as variantes do que aos olhos, dá prazer, e à mente, as sempre reticências e fortes expressões corporais, que consome o ser... beijos da l-

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  2. "...Nestas palavras que inexplicam a razão..." embriagadas luzes serpenteiam...
    MAGNÍFICO VERSEJAR! Bjs.

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